O processo de internacionalização, como já falamos anteriormente nessa coluna, engloba sempre mais do que só o aluno. Todos os níveis da instituição precisam estar envolvidos na hora da implementação e manutenção desse projeto. Sendo assim, os professores são outra parte crucial da sustentação de um sistema de ensino internacionalizado.
Implementar a língua inglesa de maneira eficaz em um contexto de universidade implica o desenvolvimento profissional do corpo docente, tanto de professores especializados em inglês como de especialistas em outras disciplinas que precisam ensinar por meio do idioma estrangeiro. E para que isso aconteça de forma organizada é necessário que haja todo tipo de suporte antes, durante e depois do projeto já implementado.
Mas, qual é esse tipo de suporte e como proporcionar isso ao público? A questão pode parecer complexa, mas a resposta é bastante simples.
Garantir o nível adequado dos professores da instituição
Em materiais anteriores nós falamos sobre a importância de medir a proficiência dos alunos que ingressam nas universidades, tanto por questões de nivelamento em sala de aula quanto para garantir o entendimento dos conteúdos e viabilizar a comunicação deles com possíveis estudantes estrangeiros.
Com o corpo docente isso não é diferente: é necessário que os professores também tenham certo nível de domínio do idioma para lecionar nas universidades que adotam esse modelo de ensino.
Uma solução ao recrutar novos profissionais é pedir que eles apresentem uma certificação para legitimar seu conhecimento ou a implementação de um teste de entrada na instituição. Para aqueles que já fazem parte do time, aulas eletivas ou até cursos completos de inglês podem ser oferecidos para elevar seus níveis linguísticos.
Apoio no ensino EMI e no aprendizado da língua inglesa
Falar inglês é importante, mas apenas dominar o idioma não basta para lecionar por meio dele. A maioria das universidades que passa pelo processo da internacionalização adota o EMI (inglês como meio de instrução, em tradução livre do inglês) como o fio condutor de apoio ao ensino (nós já falamos sobre a prática aqui). E é necessário que os professores estejam aptos e seguros para lecionar suas matérias em inglês, já que estarão passando seus conhecimentos para os alunos utilizando uma abordagem nova e diferente da maneira como ensinamos na nossa própria língua.
Para dar um passo importante como esse é vital saber o nível de confiança que os docentes apresentam para ministrar suas disciplinas nessa língua que não é a sua nativa.
A formação em EMI é uma solução nesse sentido. Um case recente que apresentou resultados interessantes nesse sentido foi a parceria de Cambridge Assessment English, departamento da Universidade de Cambridge voltado para exames de proficiência e preparo de professores, com a Universidade de São Paulo (USP).
O departamento está envolvido em uma colaboração inédita com a instituição paulista, por meio da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI), para a formação de um grupo de docentes de diferentes disciplinas e faculdades em um projeto piloto de aplicação do curso sobre EMI.
A iniciativa é parte da cooperação entre as organizações para apoiar e promover a aceleração de ofertas de cursos que coloquem a língua como parte integrante da proposta de internacionalização para que o Brasil expanda seu papel e oportunidades no contexto da educação superior internacional.
Materiais de qualidade e uma boa estrutura
De nada adianta capacitar professores e ajudá-los no aperfeiçoamento das habilidades no idioma se as ferramentas que lhes são disponibilizadas para lecionar não ajudam no desempenho da função. Contar com material de qualidade é importante para que o docente tenha embasamento na hora de passar conhecimento para os alunos. Afinal, apesar de não definir a qualidade de um currículo ou de um programa, essa ferramenta fornece um apoio valioso para que o professor tenha formas de manter ou de formar uma imagem de qualidade em torno do nome do seu empregador.
A mesma coisa acontece com a estrutura tanto das instituições quanto das salas de aula. Criar laboratórios adequados e outras instalações que permitam ao corpo decente ter acesso a referências internacionais é importante para a implementação e manutenção do processo de internacionalização das instituições. É preciso pensar nesse tipo de ação como estratégica para que haja sucesso na longa empreitada.
Reconhecimento
Por fim, mas não menos importante, é preciso que haja reconhecimento por parte da instituição em relação à dedicação do professor que leciona em inglês. Isso pode acontecer por meio de incentivos financeiros, mas também pela valorização da carreira em si. É preciso lembrar que o professor que leciona em outro idioma, que não o seu nativo, faz um investimento adicional desde sua formação, até o preparo da aula em inglês, e por isso é importante que o corpo docente se sinta acolhido e reconhecido institucionalmente.
Notícia publicada no site REVISTA ENSINO SUPERIOR, em 26/02/2020, no endereço eletrônico: https://revistaensinosuperior.com.br/internacionalizacao-ensino-superior-prof/