A rotina em casa mudou. Os filhos não vestem o uniforme escolar e vários pais também não saem para trabalhar. Mas as aulas de muitas crianças e adolescentes continuam, de modo virtual, e todos da família precisam se adaptar ao novo modelo. A educação a distância proporciona uma nova realidade nos lares do Distrito Federal, com várias possibilidades e problemáticas. Esse cenário deve continuar, pelo menos, até junho, pois o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que a expectativa é de que as aulas presenciais fiquem suspensas até 31 de maio. Enquanto isso, pais dividem opiniões sobre o modelo on-line e especialistas dão dicas de como ter um bom aprendizado por meio da internet.
A principal dificuldade de muitos é com a rotina. Leonardo Sá, 41 anos, é professor e pai de quatro crianças. Ele vive como poucos a transformação do ensino virtual. “Para os mais novos, como houve uma quebra do cotidiano escolar, há uma dificuldade de compreender que é hora de deixar de brincar para realizar as atividades. Na cabeça deles, estão de férias. Quando estão na escola, os alunos entendem o fato de que ter tarefa faz parte da rotina escolar. Agora que isso foi quebrado, nem sempre eles compreendem a necessidade das tarefas, mas fazem”, conta.
Na casa de Leonardo, são três garotos com idade escolar, de 5, 6 e 11 anos, enquanto que a bebê de 2 anos acompanha tudo de perto. O mais velho achou a proposta on-line da escola interessante pelo fato de não ficar parado em relação aos estudos, mas também considera alguns dias cansativos por conta do tipo e da quantidade de atividades. Para que os mais novos entendam a importância das aulas em casa, o pai aposta no diálogo. “É preciso conscientizar as crianças de que esse aprendizado precisa continuar e que, mesmo a distância, o ensino tem valor. No nosso caso, ainda temos que gerenciar o fato de termos crianças em idades escolares diferentes, o que torna o processo mais complexo. Mas também me coloco no lugar de quem não tem tempo para acompanhar a rotina dos filhos”, avalia Leonardo.
O pai vê muito valor nas atividades on-line, principalmente neste período que as tornam essenciais, mas também sente falta de aprendizados importantes que não podem ser substituídos. “O ambiente escolar permite relações que ali são desenvolvidas, experiências do cotidiano de um colégio, que são indispensáveis na formação de nossos filhos. Para as crianças do ensino fundamental, as necessidades de relações interpessoais e os conflitos do dia a dia são primordiais na formação do intelecto”, considera.
Dicas
Para Klisman Vercino, diretor do Colégio Objetivo, os alunos de diferentes idades podem recorrer a métodos que deixem a educação a distância mais fluida, diminuindo os impactos da mudança drástica dos últimos dias. “O primeiro passo é criar uma rotina, sempre respeitando os horários combinados, para que o estudante entenda que esse momento é para estudo. Vale a pena até vestir o uniforme do colégio. Também é importante ficar por dentro das atividades e conteúdos, criar um cronograma de entrega de todas as tarefas”, diz.
Ele também considera que o ambiente é fundamental para um bom aprendizado. “O local para os estudos deve ser calmo e confortável. Então as dicas são: não se esqueça de deixar todos os materiais necessários organizados, não deixe nada tirar a atenção nesse momento, abaixe o som do celular e use fone de ouvido para ouvir as aulas”, detalha.
Telma Holanda, 43, tem filho matriculado na fase final do ensino médio no Colégio Sigma, e conta que eles seguem essas recomendações para ajudar no aprendizado. “Aqui em casa, como ele estuda pela manhã, acordamos cedo e, após o café da manhã, já iniciamos as demandas que chegam do colégio todos os dias. Tento deixar um ambiente tranquilo, arejado e iluminado para que ele se concentre nos estudos. A meta é concluir as demandas do dia de forma a não acumular o conteúdo”, afirma a arquiteta. O filho Vítor Omena, 17, considera que os primeiros dias foram mais difíceis, mas foi fácil se adequar por conta do contato frequente da geração com o uso da tecnologia. “Já estamos acostumados com tablets na sala de aula. Vídeos e internet também fazem parte do nosso dia a dia. Agora, tenho me preocupado em ter boas noites de sono, organização de horários e do ambiente de estudos, evitando distrações com redes sociais e jogos”, completa.
Três perguntas para William Pinheiro, diretor da unidade de Águas Claras do Sigma
Hoje, muitos pais mudaram a rotina diária por conta da pandemia do coronavírus e os efeitos dela, como o isolamento social e trabalhos em home office. Quais dicas podemos dar para eles sobre como se organizar no dia a dia para conseguir auxiliar crianças e adolescentes nas atividades escolares?
O engajamento dos alunos nesse cenário que estamos vivendo, que é atípico, é o principal fator. A partir do momento em que eles se engajam junto às famílias, temos qualquer proposta de trabalho a distância bem sucedida. Os pais também têm que demonstrar real interesse no que os filhos estão aprendendo e em quais estratégias a escola está promovendo para que eles também motivem os alunos. Esse gesto pode fazer toda diferença. Nesse momento, as famílias também vivem muito o home office em casa, com grande demanda de trabalho. Mas é importante essa interação, a participação. É legal montar um cronograma junto com o filho, tentar estabelecer algumas metas semanais. Isso ajuda para que eles tenham uma performance maior. A rotina também é essencial. Se o aluno tem estabelecido o que fará de manhã, de tarde e de noite, de acordo com a proposta de trabalho da escola, o processo de aprendizagem é muito mais eficaz. Paralelamente a isso, é interessante que os pais incentivem a leitura de jornais e revistas, porque muitos métodos pedagógicos dialogam com a realidade que estamos vivendo.
Na parte das escolas, quais são as possibilidades e inovações proporcionadas em uma educação a distância?
É importante que a instituição tenha como ponto de partida a redefinição das expectativas de aprendizagem. A escola não pode partir do pressuposto que a aprendizagem presencial será idêntica à virtual. Existe um currículo que define o plano de trabalho dos professores, e a gente sabe que o colégio tem que dar conta disso. Para isso, é preciso proporcionar uma estratégia de ensino por meio de uma plataforma, de listas de exercícios, interação. Há escolas que adotam o modelo de encontro síncrono, em que o professor dá aula em tempo real e interage, e há aquelas em que o professor grava a aula e ela fica disponível a qualquer momento. Ou seja, a instituição tem muitas possibilidades.
E como driblar problemas pontuais que podem acontecer, como o vídeo travando, uma internet que cai ou dificuldades de acesso?
Boa parte da população mundial tem passado por home office e temos uma grande quantidade de estudantes fora das escolas estudando por plataformas digitais. Então, obviamente, toda e qualquer plataforma pode ter problemas com a internet lenta, com servidor apresentando interrupções. A paciência e a persistência são valores que temos que desenvolver muito nesse momento. Com resiliência e compromisso, a gente consegue avançar nas estratégias que as escolas oferecem.
Escola em Casa DF
Na próxima segunda-feira, a Secretaria de Educação do Distrito Federal lançará o projeto Escola em Casa DF, que tem como objetivo retomar o conteúdo didáticos das escolas públicas com o uso da tecnologia. Na primeira etapa, as atividades serão ministradas pela televisão. A pasta fechou uma parceria com a TV Justiça e terá a transmissão, de três horas por dia, de conteúdos didáticos, com atividades que atendem várias etapas e modalidades de ensino. Os estudantes podem ter acesso à programação pelos canais 53.1 e 53.2, entre 9h e 12h, de segunda a sexta-feira. A secretaria também conversa com representantes da TV Gênesis para o mesmo tipo de transmissão. “A grade de programação terá entre 15 e 30 minutos para cada etapa/modalidade de ensino. Haverá conteúdo para a educação precoce, para os Centros de Educação Especial, educação infantil, anos iniciais e finais do ensino fundamental, ensino médio, ensino médio em tempo integral (Emti), educação de jovens e adultos (EJA), educação profissional e, ainda, educação física em movimento”, informou a pasta, por meio de nota.
Fonte: Correio Braziliense