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Ensino técnico é preferência entre jovens que deixaram escola e querem voltar

jovem brasileiro que não concluiu o ciclo básico de educação, mas gostaria de voltar à sala de aula, tem preferência pela formação com caráter técnico profissionalizante, que eleve sua capacidade para conseguir um emprego, ascender na carreira ou chegar ao ensino superior.

É o que revela uma pesquisa encomendada pelo Itaú Educação e Trabalho Fundação Roberto Marinho sobre o perfil dos brasileiros entre 15 e 29 anos que deixaram a escola antes do tempo. Ela mostra que 73% dos jovens que não terminaram o ciclo básico gostariam de completar os estudos. Destes, quase oito em cada dez (77%) gostariam de fazê-lo através do ensino médio técnico.

No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, mais de 9 milhões de jovens os jovens que não concluíram o ciclo básico – 20% da população entre 15 e 29 anos.

O perfil desse grupo é masculino (59%), negro (70%) e que vive com uma família de renda per capita mensal até 1 salário mínimo (78%). Cerca de seis em cada dez possuem filhos — entre mulheres, essa proporção sobe para 8 em 10.

A necessidade de buscar um emprego ou melhorar sua colocação no mercado de trabalho é o motivo mais citado para voltar à escola: 52% dizem ter o emprego como motivação para terminar a escola, 37% afirmam buscar progressão ou melhorar seu currículo e 28% citam a vontade de chegar ao ensino superior ou ter uma profissão entre suas motivações.

O mundo do trabalho é, simultaneamente, o principal motivo citado para o afastamento dos bancos escolares – 32% citou a necessidade de trabalhar como principal causa pela evasão, seguido da necessidade de cuidar da família (17%). Por outro lado, a parcela que diz que não vê necessidade ou vontade de estudar foi de 16%.

“O que a pesquisa mostra é que o trabalho está no centro dessa questão, é a razão de o jovem sair e também a motivação para ele voltar”, afirma a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue. “É preciso ter políticas que permitam o jovem trabalhar – eles são cobrados por isso em suas famílias.”

Dois perfis sobressaem dentro desse grupo, segundo os organizadores da pesquisa. O dos “quase lá”, cerca de 3,4 milhões jovens que deixaram de frequentar a escola no ensino médio. E o das 3,4 milhões mulheres com filhos – das quais 72% são negras e 35% está fora da força de trabalho — a maior proporção para este quesito entre os perfis pesquisados. Entre elas, 34% citou a necessidade de cuidar da família – entre homens, é de apenas 8%.

Abordagem múltipla

O trabalho mostra também que a forma para atacar este problema precisa ser múltipla e não apenas ser tomada como responsabilidade do governo, mas também das empresas e da sociedade.

Em relação ao primeiro ator, são citadas uma série de medidas que podem ser implementadas ou melhoradas, entre elas bolsas de incentivo – com o programa Pé-de-Meia, recém lançado pelo governo federal, o fortalecimento da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do programa Jovem Aprendiz, a matrícula facilitada e a busca ativa por jovens que se enquadram nesse perfil.

Uma das bandeiras recentes do governo federal, o Pé-de-Meia, programa de bolsa e poupança do governo pensado para incentivar a permanência no ensino médio que deposita R$ 200 no ato da matrícula e outras 8 parcelas de igual valor ao longo do ano letivo, têm suas limitações quando se depara com a realidade daqueles que querem voltar à escola, notam os organizadores.

“É um programa interessante para aqueles que estão em risco, na iminência de deixar o ensino médio. Mas a gente precisa levar em consideração que aqueles que já estão fora da escola, os que precisam gerar renda, ele pode não ser o suficiente”, diz Rosalina Soares, assessora de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho. “Talvez um valor maior na entrada do programa. Além disso, como defende o Ricardo Paes de Barros [que colaborou com o estudo], a boa política de bolsa também precisa estar conjugada com a qualidade de educação e com a acolhida dos estudantes que mostrem dificuldades em acompanhar a trajetória escolar.

Ela nota que muitas iniciativas já implementadas não contemplam a população de 20 a 29 anos, grupo que concentra 86% dos jovens que não concluiu o ciclo básico. A escola em tempo integral, outra bandeira do Ministério da Educação, também não se enquadra no perfil desse grupo, já que concorre com outras obrigações, ressalta.

Entre as principais medidas citadas pelos entrevistados que poderiam auxiliar o retorno desse grupo à sala de aula, foram citados medidas para conciliar o trabalho e o estudo em períodos diferentes (41%), bolsa ou auxílio financeiro para estudos (35%) e creche para deixar os filhos durante o período escolar (32%).

A pesquisa mostrou também que a maioria (51%) prefere o ensino 100% presencial, 28% o ensino 100% à distância e 25% híbrido. “Se oferecer só presencial, vamos deixar bocado de gente para trás”, nota Ana Inoue, do Itaú, lembrando que 34% dos entrevistados afirmaram não encontrar escolas perto de casa e com horário compatível com a sua disponibilidade.

Do lado das empresas, é necessário ter uma melhor compreensão sobre a necessidade dos jovens de completarem seu percurso escolar – e, por isso, ter uma melhor flexibilidade de horários para acomodar o emprego e os estudos.

“Seria um sonho ajustar a legislação para contemplar todas as juventudes e as desigualdades entre esses grupos. Mas é algo complexo, especialmente com esse Congresso atual. Vejo a possibilidade, dentro do que existe hoje, de as empresas conseguirem pensar em políticas que não restringisse a adaptação dos jovens”, diz Inoue. “O Jovem Aprendiz é um bom exemplo disso, já que reserva meio período para os estudos”, acrescenta, lembrando que, sob as regras atuais, o programa beneficia cerca de 500 mil estudantes, metade do seu potencial.

Soares lembra ainda que 69% dos que não terminaram a escola estão na informalidade. “Isso significa que essa parcela passa ao largo da regulamentação. Por isso é necessária uma grande mobilização pelo valor da educação, no sentido de viabilizar a educação deles”, diz.

Fonte: valor.globo.com

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