Diego*, 19, começou a trabalhar aos 16 anos como ajudante de pedreiro. No começo, conciliava o serviço com os estudos, mas um tempo depois já não conseguia mais. O rapaz faz parte dos 9 milhões de jovens, entre 14 e 29 anos, que estão fora da escola no Brasil. Os dados são da Pnad Contínua, divulgada hoje pelo IBGE.
O que aconteceu
Evasão caiu entre 2022 e 2023. No ano anterior, 9,5 milhões de jovens não estudavam. Os índices se referem a quem abandonou a escola no ensino médio ou nunca chegou até essa etapa de aprendizado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Necessidade de trabalhar, falta de interesse, gravidez e afazeres domésticos são os principais motivos citados para abandonar a escola. Assim como aconteceu com Diego*, a necessidade de trabalhar foi a razão mais citada (41,7%) —a justificativa é mencionada por 53,4% dos homens e 25,5% das mulheres que deixaram de estudar.
Falta de interesse nos estudos é o segundo principal motivo citado pelos homens (25,5%). A taxa entre as mulheres é de 20,7%.
No caso das mulheres, gravidez aparece como segundo principal motivo (23,1%). Na sequência, com 9,5%, elas citaram que “tinham que realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas”. Só 0,8% dos homens citaram essa razão.
Evasão é maior entre homens e negros
Do total de jovens que não estudam, 58,1% são homens e 71,6% são pretos ou pardos.
A maioria dos jovens que deixam a escola toma essa decisão a partir dos 16 anos (74,5%). “O grupo que abandonou a escola com 18 anos [21,1%] registrou o principal aumento [5,4 pontos percentuais]”, afirma o IBGE.
A região Sul lidera na faixa etária dos jovens que abandonam os estudos aos 15 anos, 13,5%. Em seguida, aparecem as regiões Sudeste (13,1%) e Norte (12,8%). Geralmente, essa idade marca a chegada do aluno ao ensino médio.
Entre jovens de 16 a 18 anos, o Sudeste e o Sul mostraram índice elevado de abandono. A taxa de evasão para essa faixa de idade ficou em 60,8% e 60,5%, respectivamente. Em relação aos jovens que largaram os estudos sem o ensino básico com 19 anos ou mais, o Norte e o Nordeste registraram maiores taxas, 24,5% e 21,6%.
Diego faz parte do perfil mais afetado pelo abandono escolar no Brasil: homem, negro e nordestino. Ele saiu do interior da Bahia para São Paulo para tentar uma vida melhor — seu objetivo era estudar e trabalhar no contraturno para ajudar a família.
Me transferi para a noite para conseguir mais dinheiro, trabalhar mais tempo. Eu trabalhava o dia inteiro. Aí eu não conseguia mais ter energia para estudar à noite. Quando minha mãe ficou desempregada, tive que parar de ir para a escola.
Íamos ficar dependendo do meu padrasto, então eu pensei: ‘caramba, eu já estou com 16 anos, não sou mais criança. Minha mãe está sem trabalho, vou continuar trabalhando’. Parei de estudar e continuei trabalhando em obra.Diego, 19 anos
Diego acabou voltando para a Bahia, mas não conseguiu retomar os estudos.
Para tentar reduzir a evasão escolar, governos estaduais criaram programas de pagamento de bolsas. Recentemente, o governo Lula (PT) também sancionou uma lei que prevê o pagamento de até R$ 9.200 aos estudantes do ensino médio que concluírem a etapa e realizarem o Enem, principal porta de entrada para o ensino superior.
Crianças na creche
92,9% das crianças de 4 e 5 anos estão matriculadas em creche, segundo a Pnad. O percentual, apesar de alto e de refletir um crescimento em relação a 2016 (90%), não alcançou a meta do Plano Nacional de Educação — o documento previa a universalização da educação infantil nessa faixa etária.
Já entre as crianças de 0 a 3 anos, a taxa de matrícula é menor: 16,3% de 0 a 1 ano e 58,5% na faixa etária dos 2 a 3 anos. O PNE também tem uma meta que prevê ao menos 50% das crianças de 0 a 3 anos frequentando a creche — o prazo para cumprir as metas termina este ano, e boa parte delas não será batida.
A maioria das crianças dessa faixa etária está fora da creche por opção das famílias (63,7% de 0 a 1 ano e 55,4% de 2 a 3). A educação infantil é obrigatória a partir dos 4 anos.
A falta de creche na região ou de vaga também foi apontada como um dos motivos. Para famílias com bebês de 0 a 1, 30,7% e para as crianças de 2 a 3 anos, 38,5%.
Fonte: UOL